Monday, May 22, 2006

Agora tudo vira um tom monocórdio...

Daqui para frente você vai ouvir muito falar em seleção brasileiro e hexacampeonato. Se ganharmos o hexa, então, será um nojo. Não tenho nada contra a seleção, ou contra o hexa, só acho que com tantas coisas importantes para se preocupar o brasileiro dá atenção demais para esse assunto; ou seja, não coloca as coisas na real dimensão de importância que elas merecem.

De que vale nos sermos pertacampeões mundiais de futebol se somos campeões mundiais em violência, em pior distribuição de renda, na cobrança de juros, em analfabetos funcionais - que leem e não entendem o que leram - em corrupção e roubos no governo e na política. Esses são os números que realmente interessam! Eu preferia não ter um único título no futebol, mas ter, por exemplo, os índices de desenvolvimento da Finlândia - que não é campeã de nada no futebol.

Nosso povo se preocupa demasiadamente, desmesuradamente com coisas que não interessam, e não se preocupa com as coisas que lhe dizem respeito. Eu sei que não vou mudar isso, são forte tradições culturais arraigadas na massa, mas faço a minha parte, denuncio, não alimento em demasia o que não interessa.

1 comment:

Anonymous said...

Mas será a preocupação ou o interesse pelo futebol o problema? Uma coisa não exclui a outra. Tenho certeza que os cidadãos politicamente envolvidos (engajado, para mim, é um termo pejorativo, já que em via de regra é aplicado por gente da pior espécie falando de si mesma) da Finlândia tem suas distrações, suas paixões, e nem por isso deixam de 'cumprir seus deveres cívicos'. Por que eu preciso deixar de me empolgar com a Copa, ou com a anulação dos jogos do Brasileiro, ou com a última negociação do meu time? As pessoas não tem um limite de assuntos pelos quais podem se interessar, nem um limite de tempo que pode ser alocado em cada um deles. Se eu quiser dedicar minha vida ao futebol (ou à pelota basca) qual é o problema? Quem pode julgar o que é mais importante?

Você cita violência, distribuição de renda, cobrança de juros, analfabetismo funcional, corrupção e roubos no governo e política. Legal, esses são os tópicos que interessam à você! Pessoalmente, acho que a questão é mais profunda. Que agir sobre esses males é só tratar dos sintomas sem curar a doença. Que a solução não é o policiamento de N. York, a honestidade de Helsinki ou a organização de Tokio.

Para mim, a solução é o oposto da sabedoria popular, é a quebra do paradigma básico da sociedade capitalista: o egoísmo fundamental. Adam Smith incutiu a idéia de que se cada um se preocupar consigo mesmo, estaria ajudando o todo. Na minha opinião isso é anti-natural. O certo seria o contrário, o altruísmo fundamental. Se cada um se preocupar com todos à sua volta, não há a necessidade de cada um pensar em si. Além de ser um sistema mais seguro (afinal, ao invés de só você se preocupar consigo, todo mundo se preocupa com você), é muito mais gratificante.

Ok, fugi bastante do tema. Mas serve para ilustrar como os conceitos de 'importância' e 'real interesse' são maleáveis. Na minha visão, atacar a torcida pelo futebol é enxugar a testa febril, sem se preocupar nem com a febre, que dirá com a infecção que a causou.